sábado, 6 de novembro de 2010

Renato Rabelo: A maior vitória do povo brasileiro em 2010

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Durante reunião da Comissão Política Nacional do PCdoB realizada nesta sexta-feira (5) em São Paulo, o presidente do partido, Renato Rabelo, fez uma intervenção na abertura dos trabalhos em que descreve o cenário político atual com ênfase na eleição de Dilma Rousseff, na transição de governo e nas necessidades mais urgentes da próxima administração. O dirigente assegurou – o que depois foi ratificado pela CPN – que o partido se empenhará pelo êxito do novo governo. Confira íntegra a seguir.



A vitória de Dilma Rousseff – que alcançou 56,05% dos votos válidos nas eleições de 31 de outubro – tem sentido estratégico, avança no caminho traçado pelo programa do Partido Comunista do Brasil. Se houvesse uma derrota eleitoral agora, truncaria nosso avanço no sentido do objetivo maior programático. É a maior vitória política do povo brasileiro no grande embate eleitoral de 2010. Dilma é eleita com a segunda maior votação da história política brasileira, sendo a primeira mulher a ser eleita presidente da República.

Trata-se de um feito histórico inédito porque é a terceira vitória consecutiva de forças avançadas do país. O ciclo aberto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 permitiu às forças democráticas, progressistas e de esquerda atingir o poder central. Jamais se tinha alcançado até aqui a execução de um programa que combinasse soberania nacional, desenvolvimento econômico, distribuição de renda, inclusão social dos deserdados e liberdades políticas.

Esta vitória repercutiu além-mar, em outros continentes, reforçando o papel alcançado pelo Brasil de nação respeitada no mundo e estimulando a nova situação política vivida na América Latina, a partir da formação de governos soberanos, democráticos e populares.

A campanha de Dilma Rousseff teve de enfrentar uma campanha feroz e odienta. A mais feroz e intensa oposição, considerando os poderosos meios de comunicação envolvidos e a conformação de santa união de forças conservadoras, retrogradas e obscurantistas, que agiram desbragadamente para barrar o êxito eleitoral da campanha de Dilma.

O presidente Lula foi o grande artífice da vitória alcançada. O grande lastro para o impulso e ampliação da campanha de Dilma foi a compreensão da maioria da nação de que era preciso a continuidade do governo Lula. A aprovação do seu governo já tinha atingido o extraordinário patamar de 83% de apoio da população nas pesquisas de opinião.

A campanha de Dilma posta em movimento partia da justa orientação de colocar a disputa política de 2010 nos moldes de um “plebiscito”. Ou seja, aprovar ou não o governo Lula, contrastar o programa aplicado por Lula em relação ao precedente executado por FHC. A candidata Dilma apresentada pelo presidente Lula, e pessoa protagonista do seu governo, era exposta pelo presidente como a expressão maior e garantia da continuidade do seu governo sem ele. Logo surgiram assertivas as mais variadas, fazendo esforços para demonstrar que era impossível a transferência de votos de Lula para sua candidata.

É evidente que o conjunto das forças de oposição, nos seus diversos moldes, procurou agir para inviabilizar a linha plebiscitária do pleito, despolitizando-o, tentando recolocar o centro do embate na comparação de currículos, e na experiência da capacidade gestora. E mais adiante inflando uma terceira candidatura, almejando certa tri-polarização.



Refletindo essa tentativa de despolarização política, José Serra foi incapaz de se opor ao governo Lula e escondeu o período de oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso. Ele procurou se apresentar como o mais bem preparado, por sua experiência de governo, para dar continuidade ao pós-Lula. Lula era reconhecido por ele como um mito acima das injunções políticas. A maioria do povo não se seduziu por sua artimanha. A aparição de Lula nos programas de rádio e TV apresentando e justificando sua escolha fez a candidatura Dilma ter ampla aceitação, refletindo forte ascenso nas pesquisas de opinião.

A candidatura Serra se perdeu não encontrando sua identidade: viveu o dilema de ser continuidade ou oposição. Um sistema de oposição – oposição política, midiática e de elites dominantes conservadoras – se consumou neste embate da eleição presidencial de 2010. Diante da iminência do revés, esse sistema procurou açodadamente projetar a candidatura de Marina e pelo modo da má fé desqualificar e satanizar a imagem da candidata Dilma Rousseff. Montaram vasto esquema de campanha subterrânea desde a Internet, a produção massiva de panfletos apócrifos e uma extensa rede de telemarketing nos estados.

Nessa nova fase de campanha, que compreendeu o final do primeiro turno, nosso comando da campanha de Dilma adotou uma postura olímpica e burocrática. Assumiu uma concepção ilusória de que a eleição já estava decidida a nosso favor no primeiro turno. Distanciou-se assim do curso concreto da campanha. Não percebeu que o ataque aberto e subterrâneo à idoneidade de nossa candidata levava a uma transferência da perda de votos da nossa candidata para Marina. Ficamos fixos na posição de que a candidatura Serra mantinha-se estagnada e de que Marina não ultrapassaria mais de 12% percentuais, restando a ilusão de que o pleito se finalizaria no primeiro turno.

A existência do segundo turno na eleição presidencial, apesar da importante vitória que colhemos no primeiro turno, deixou a pecha e a consciência de que fomos derrotados. Era possível vencer no primeiro turno? Sim. Em carta dirigida a Dilma e Lula afirmei que a ilusão nos traiu nos afastando do curso real do embate, apontando a responsabilidade da Coordenação da Campanha (Fiz duas cartas a eles endereçadas e um artigo para divulgação pública, “Abaixo as Ilusões”). O adversário batido festejou a “vitória”. Reascendeu a esperança perdida nos meios oposicionistas.

O forte choque inesperado do percurso eleitoral levou a se encarar a realidade objetivamente. Buscou-se uma convergência em dois sentidos: politizar a campanha, agora facilitada pela polarização objetiva do segundo turno (semelhante o acontecido no segundo turno de 2006); mobilizar todas as forças políticas possíveis, lideranças dos diversos setores da vida nacional, movimentos sociais, militância em todo país.

As forças oposicionistas retemperadas com uma nova esperança procuraram se armar utilizando todos os meios para decidir a batalha a seu favor. Atacaram em todas as frentes: na área política tentaram dizer que era a candidatura Serra que tinha estatura capaz de unir o Brasil, acima das injunções partidárias; na área social, ofereceram bônus sociais para o salário mínimo, aposentados e aos que recebem a Bolsa Família; na esfera moral, traficando com valores que invocasse preconceitos contra a trajetória, posições e a vida pessoal da candidata Dilma Rousseff. Procuravam assim, corresponder a todos os setores sociais, buscando apoio nas camadas populares e médias.
As batalhas do segundo turno não se resumiram na polarização entre dois projetos que foram sendo explicitados. Foi além. O fragor do embate acabou delineando dois campos políticos e ideológicos em curso. A candidatura de Serra tornou-se o escoadouro da política, conceitos e valores de setores atrasados e obscurantistas, de correntes de extrema-direita que aparentemente estavam fora de ação. E de compromissos com as camadas conservadoras de São Paulo.

Vencemos a batalha decisiva de 31 de outubro. Vencemos porque tem sido forte e amplo o anseio de continuidade e vasto o prestígio da liderança de Lula; porque foram reafirmadas as diferenças de programa e que a candidata de Lula é realmente mais confiável para a continuidade e avanços; a candidatura Dilma foi se impondo para a maioria dos eleitores; amplas forças políticas e sociais favoráveis à candidatura Dilma, antes adormecidas, entraram em movimento.

Nosso Partido desde o início dedicou-se completamente à vitória de Dilma. Contribuiu na construção da aliança de partidos e movimentos sociais que respaldou a candidata, apresentou ideias programáticas e opiniões sobre a condução política da jornada, indicou quadros para a coordenação da campanha e, por todo o país, seus candidatos e militantes abraçaram com entusiasmo a bandeira de Dilma. Do mesmo modo, batalhou pela vitória de seus demais aliados aos governos estaduais e ao Senado. Catorze governadores e 28 senadores eleitos tiveram o apoio decidido dos comunistas.
Serra sai menor da campanha, como bem afirmou Lula. A oposição derrotada é desnudada de suas contradições. A sua recomposição será difícil porque é profundo o vinco de sua divisão. A luta pela predominância de novas lideranças da oposição já está em marcha. Eles terão que enfrentar agora uma maior e mais definida base governamental de uma sucessão vitoriosa, podendo sofrer maiores divisões.

Conquistada a vitória de sentido histórico, estamos agora diante da construção da transição e do que deverá ser o novo governo. Este desafio é ainda maior porquanto tem que seguir adiante nas conquistas alcançadas pelos dois governos de Lula. Para avançar, o novo governo já está sujeito a pressões e contrapressões de toda ordem. Tem limites no tempo e nas condições existentes o lema de que “todos ganham”. São inevitáveis os momentos dos grandes embates políticos e sociais que levam às mudanças profundas, as quais não sendo realizadas voltam-se ao pior retrocesso. O fiel da balança tem que pender para o lado da maioria da nação e das grandes parcelas majoritárias dos que trabalham e produzem.

O PCdoB participará da transição ao novo governo. Neste processo, o Partido vai primeiro enfatizar a necessidade de dar nitidez ao projeto que serviu de base para sua vitória, definindo um programa imediato de governo que compreenda as prioridades a serem enfrentadas. Segundo, devemos nos empenhar na estabilidade da aliança ampla que permita a governabilidade. Mas, dada a sua heterogeneidade, deveremos trabalhar pela construção de um bloco de forças de esquerda e progressistas com a finalidade de formar um pólo político consequente, a fim de garantir o rumo do programa e o êxito da política que envolva todas as esferas do governo.

As questões candentes que devemos discutir na transição para o novo governo, podendo apresentar ideias e propostas imediatas para condução do governo eleito, são:

- Posição diante da necessidade de “corte de gastos”;
-“Guerra cambial”- liquidez internacional sem limites, impressão desbragada de papel-moeda pelos EUA;
- A resolução no Congresso da proposta do governo sobre o pré-sal;
- Garantia do aumento real do salário mínimo em 2011;
- Mais investimentos para a saúde

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