domingo, 28 de novembro de 2010

Deputado estadual Pedro Bigardi concede entrevista ao "Jornal de Jundiaí"

Pedro Bigardi fala sobre os seus projetos
para o próximo mandato parlamentar
Anos de militância petista deram ao deputado estadual eleito Pedro Bigardi (PCdoB) uma postura mais reflexiva ao seu mandato. Ele reconhece a importância que um deputado estadual tem para a Região, mas também não quer perder a oportunidade de legislar sobre assuntos pertinentes ao Estado.


Aproveitando os anos de experiência como engenheiro civil na área de Planejamento, Bigardi está preocupado com os inúmeros empreendimentos imobiliários lançados em Jundiaí e o reflexo para a mobilidade urbana de toda a Região. Como autor do projeto de lei da criação do Parque Estadual da Serra do Japi, Bigardi acredita que o parque é a única forma de se manter vivo o ecossistema que engloba quatro cidades da Região.


No PCdoB desde 2007, Bigardi afirma que não ficou magoado com o PT de Jundiaí e que sua saída foi resultado de um processo de desgaste da eleição de 2006. "Muitos petistas jundiaienses não quiseram apoiar minha candidatura. Por isso, senti que não havia mais espaço para mim no partido." O relacionamento, entretanto, com o PT estadual parece não ser tão amistoso, já que a legenda foi a responsável pela cassação de seu mandato anterior como deputado por infidelidade partidária.


Sem aparentar mágoas, Bigardi continua mantendo uma rotina que inclui passeio com seu cachorro, idas ao Mercadão da Vila Arens e caminhadas pela cidade. Foi um ativo militante pró-campanha de Dilma Rousseff e vai continuar na oposição aos governos estadual e municipal. Para ele, falar sobre eleições municipais daqui a dois anos é muito cedo. Mas sua tese é de que quanto mais candidatos houver, melhor para a cidade. Nesta entrevista, concedida em seu escritório na rua Zuferey, em Jundiaí, Bigardi falou sobre seus projetos:


Jornal de Jundiaí - Como será sua rotina na Assembleia?
Pedro Bigardi: Trabalho na Assembleia de terça a quinta-feira, mas vou e volto todos os dias. Na segunda e sexta-feira, fico em Jundiaí. No meu mandato anterior, eu era o único deputado do PCdoB e, por isso, acabava viajando mais. Agora, dividirei esta incumbência com a Leci Brandão, então quero me concentrar nas demandas regionais. E continuarei a dar aulas de Planejamento Ambiental, no Unianchieta, na segunda-feira à noite.


JJ - Quais dos seus projetos você quer manter?
Bigardi: Quando deputado, criei a Frente Parlamentar de Logística e pretendo retomá-la, pois entendo que a mobilidade urbana é o maior desafio para as cidades brasileiras. Veja o que acontece com Jundiaí. Tínhamos uma boa estrutura, nível de serviços adequado e um trânsito que sempre fluiu. Atualmente, graças aos novos empreendimentos imobiliários, já estamos vivendo um caos. É preciso agir imediatamente, pois há um exagero nos lançamentos imobiliários.


JJ - E como podemos barrar este crescimento?
Bigardi: O Plano Diretor é a melhor ferramenta que temos para ajustar este crescimento. Jundiaí foi referência em planejamento urbano na década de 1960, mas agora não consegue mais gerir os problemas que estão chegando. Passo, às vezes, por cruzamentos viários que me dão vontade de chorar. Quem está pensando no planejamento da cidade? Ao mesmo tempo, estão jogando as pessoas para bairros mais afastados, sem que haja infraestrutura adequada para tanto. Jundiaí corre um sério risco e quando você faz esta crítica as pessoas dizem que você não gosta de sua cidade. É claro que eu gosto, pois nasci aqui. Mas qual o vínculo que este cidadão, que trabalha em São Paulo, vai trazer para a cidade? A especulação imobiliária só serve para quem não é daqui e para quem está interessado em acumular bens.


JJ - Como está o processo da criação da Aglomeração Urbana?
Bigardi: Atrasado uns 15 anos, pelo menos. Há uma proposta em andamento na Assembleia, embora alguns acreditem que a propositura tenha de sair do Executivo. Não podemos mais nos perder nesta burocracia e as cidades da Região têm de se unir para encontrar uma solução conjunta para seus problemas. Com a aglomeração, é possível melhorar os investimentos federais na Região.


JJ - Você vai insistir na criação do Parque Estadual da Serra do Japi?
Bigardi: Sim. A Comissão de Justiça já aprovou a proposta. Como houve a criação de dois parques estaduais pela Assembleia, vou até o fim com minha proposta. Se o governo estadual quiser, ele pode transformá-lo em projeto dele, sem problema. Estou plenamente convicto que não há como preservar a Serra do Japi com a presença de proprietários particulares ali. Não há fiscalização suficiente e há atividades irregulares na Serra. Por isso, acredito que o Estado deva assumir esta responsabilidade, juntamente com os conselhos gestores das prefeituras. O Estado pode ser competente e pode sim administrar os parques.


JJ - Quais são os seus outros projetos em trâmite?
Bigardi: Fiz um projeto para que os idosos com mais de 60 anos não paguem passagem nos trens metropolitanos. Isto está previsto na Lei do Idoso, mas precisa virar lei estadual. Fiz também um projeto que destina 50% do pré-sal para um fundo de educação, ciência e tecnologia. Espero suscitar um debate muito grande sobre o assunto. E tenho uma lei aprovada, que falta regulamentar, para destinação da Nota Fiscal Paulista pra entidades culturais e esportivas.


JJ - O deputado estadual corre o risco de não legislar para o Estado e atender somente a pequenas demandas regionais?
Bigardi: É sempre um risco que a gente corre. Ficar só no casuísmo e se esquecer de legislar.


JJ - Como pretende utilizar a verba da emenda parlamentar?
Bigardi: Tenho enviado recursos para entidades filantrópicas e analiso que é uma boa forma de encaminhar estes recursos - que devem passar de R$ 2 milhões por ano. Ao enviar diretamente para as entidades, não caímos em jogos políticos. Enviei recursos para a cobertura de quadras esportivas no Cecap, na Vila Nambi e Jd. Esplanada, mas até agora não foram utilizados, por falta de documentação da Prefeitura. Enviei também recursos para o projeto de ciclovia, que não foi utilizado. A Associação Mata Ciliar irá receber também um veículo adaptado para a captura de animais.


JJ - Quais os outros recursos que você pode utilizar?
Bigardi: Posso propor emendas ao orçamento. Através delas, posso adquirir veículos, ambulâncias, etc. Agora, após minha eleição, tenho visitado todas as Câmaras e Prefeituras da Região para perguntar aos prefeitos o que podemos fazer por eles. Quais os recursos que poderemos trazer?


JJ - Como você lida com as discrepâncias da Região? Há cidades ricas e miséria na periferia das cidades suburbanas.
Bigardi: O Estado de São Paulo é muito rico, mas possui uma miséria muito próxima a todos nós. A regionalização do orçamento estadual ajuda a cobrir estas discrepâncias. Temos uma carência regional muito grande na área de Saúde e, mesmo com os investimentos anunciados, precisamos ficar de olho no saneamento básico, principalmente no tratamento de esgoto.


JJ - Quais outras ações que você deverá intensificar?
Bigardi: Quero ficar em cima da aplicação dos recursos na Casa de Saúde Dr. Domingos Anastasio (futuro Hospital Regional) e vou intensificar minhas cobranças ao Estado para a construção de uma nova sede para o IML (Instituto Médico Legal). Este, do jeito que está, é uma vergonha.


JJ - Como será compor a bancada de oposição ao governador Geraldo Alckmin?
Bigardi: Nesta eleição, a bancada da oposição na Assembleia aumentou. Seremos 27 da oposição contra 67 da situação. Se o Kassab for para o PMDB, o DEM vai com ele e daí a mudança ao quadro político da Assembleia e o Alckmin poderá sofrer oposição. Teremos, também, a eleição da Mesa Diretora e da presidência da Assembleia. Neste processo, sempre há espaço para negociação.


JJ - Como você vê o projeto do TAV (trem-bala)?
Bigardi: Acredito que o projeto vá trazer uma substituição de transporte nos aeroportos. Pode ser uma boa opção para o turismo. Nossa visão do projeto, por enquanto, é bem superficial. Precisamos analisá-lo melhor. Não é tão simples descartá-lo sem maiores análises.


JJ - E quais são as alternativas para a área do transporte no Estado?
Bigardi: Nós temos um metrô defasado, assim com um sistema de trens que não anda. Precisamos investir mais nestas alternativas, usando inclusive parcerias público-privadas.


JJ - Como você vê o momento político atual?
Bigardi: Os partidos políticos terão que se rever. Nosso processo de democracia é recente e isto é muito natural. Há um esgotamento do modelo político, o jovem está muito pouco interessado. Por isso, acredito que iremos descobrir uma nova forma de se fazer política.


JJ - Você é candidato a prefeito em 2012?
Bigardi: Esta é a pergunta que mais escuto pelas ruas da cidade. E eu acho isto natural. Entretanto, ainda é muito cedo para falar sobre meu futuro político. É muito difícil fazer uma avaliação agora porque nós nem sabemos como estarão os partidos políticos em nossa cidade. Gostaria que tivéssemos muitos candidatos, que os partidos demonstrassem suas posições. Por enquanto, posso lhe garantir que não penso nisto. É meu primeiro mandato eleito e quero cumpri-lo integralmente. 2012 está muito distante. E eu estou muito feliz com o meu partido, o PCdoB, que é de uma linha política que eu acredito. Estou muito tranquilo nele.


ARIADNE GATTOLINI, para o "Jornal de Jundiaí"

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