Convidado para participar de um debate sobre a Serra do Japi, nesta sexta-feira (2), o deputado estadual Pedro Bigardi evidenciou a necessidade de medidas concretas do poder público para brecar a especulação imobiliária e o crescimento desordenado que avançam no município e colocam em risco também um dos maiores patrimônios ambientais da humanidade.
Bigardi participou do programa ‘A Voz da Cidade’, comandado pelo radialista e advogado Reinaldo Basile, na Rádio Cidade Jundiaí (AM 730). Também convidado, o deputado federal Luiz Fernando Machado (PSDB) afirmou categoricamente que a Serra não corre risco. Sem dados técnicos, o tucano buscou apenas politizar o debate.
Engenheiro civil e professor de Planejamento Ambiental, o deputado trabalhou como servidor público municipal por mais de 20 anos. Na Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente, ele ajudou, inclusive, na criação da Reserva Biológica Municipal.
“O crescimento desordenado da cidade prejudica a todos e põe em risco a preservação da Serra do Japi. Como vimos recentemente na denúncia feita pelo jornal ‘O Estado de São Paulo’, alguns grupos econômicos já se preparam inclusive para construir hotéis e condomínios na Serra”, comentou.
O parlamentar classificou como “oportunista, paliativo e eleitoreiro” o fato de um projeto de lei que ‘congela’ empreendimentos na serra por 5 anos ter sido enviado pelo prefeito Miguel Haddad (PSDB) à Câmara Municipal somente após a descoberta feita pelo Estadão.
“Quem está dizendo isso não sou eu. Os pedidos de diretriz para construção de empreendimentos na área de preservação foram confirmados pelo secretário de Planejamento e Meio Ambiente ao jornal, que denunciou o fato”, reforçou Bigardi.
O parlamentar lembrou ainda que, por meio de um ofício, solicitou informações à Prefeitura de Jundiaí a respeito destes pedidos de construção. “Fizemos isso há quase um mês e até agora não recebemos nenhuma resposta”, destacou.
Animais em fuga
Outro problema está relacionado à depredação e mau uso das áreas de preservação, que afetam diretamente a fauna e flora existentes na região – considerada prioridade máxima para preservação por meio de estudos realizados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
A fuga dos animais para as áreas urbanas é um grande indicador de interferência humana na Serra do Japi. “Quem mais sofre com essa construção desenfreada de condomínios são as onças pardas. Já encontramos oito nos últimos 3 anos”, afirma a veterinária Cristina Harumi Adania, de 52 anos, coordenadora da ONG Associação Mata Ciliar, em entrevista ao Estadão.
“Pelo menos 400 animais silvestres já foram encontrados fora da área de preservação da Serra do Japi. Se estão deixando seu habitat, inclusive espécimes de grande porte como as onças é porque algo muito sério está acontecendo”, sentenciou Bigardi.
Especialistas defendem preservação máxima
A criação de uma unidade de conservação integral é defendida por Pedro Bigardi e apontada pelos estudos como a melhor solução para acabar com os riscos de grupos econômicos se apoderarem do patrimônio ambiental.
Em 2009, o deputado apresentou o projeto de lei que cria o Parque Estadual Serra do Japi. A iniciativa obriga os quatro municípios que o abrangem – Jundiaí, Cajamar, Cabreúva e Pirapora do Bom Jesus – e o Governo do Estado a priorizarem medidas para a preservação máxima de toda a serra.
“O parque prevê a criação de um Conselho Gestor da Serra, formado pelos municípios e também por integrantes de entidades e sociedade civil, além de um fundo exclusivo para conservação e manutenção”, afirmou Bigardi.
Convidada pela Prefeitura de Jundiaí para uma palestra durante as comemorações dos 28 anos de tombamento da Serra do Japi, a bióloga Rozely Ferreira dos Santos afirmou ser favorável à criação do parque estadual. Mestre em Botânica e doutora em Ecologia Vegetal, a professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostrou imagens das belezas da serra, as diferentes espécies animais e alertou para os riscos que a área sofre por conta da ocupação do homem.
Numa pesquisa pela internet, ela identificou vídeos que mostram ações de jipeiros, prática de motocross, incêndios, acampamentos e até tiro ao alvo dentro da Serra do Japi. “Há um excesso de vias de acesso na serra que cria um efeito de borda (alteração na estrutura) assustador”, constatou a especialista.
Proteção maior
Carlos Alberto Hailer Bocuhy, advogado, ambientalista, professor universitário em Gestão Ambiental, integrante dos conselhos estadual e nacional de Meio Ambiente e presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), também defendeu a preservação máxima da Serra do Japi.
“Uma unidade de conservação estadual tem um status de proteção muito maior que o de uma APA (Área de Proteção Ambiental). Ela passará a pertencer ao SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação) e terá possibilidade de aporte de recursos para preservação. Além disso, o reconhecimento de um parque estadual é diferente do de uma área de proteção”.
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